Bernard Bouts - obras originais
Em 1942, Bouts e a família - sua esposa e dois filhos - se mudam para Buenos Aires, na Argentina, por conta da Segunda Guerra Mundial. Já no continente latino, comprou um barco chamado Andariego com o qual percorreu toda a costa do país acompanhado de sua esposa e filhos. Em 1961, mudaram-se para o Brasil, onde se estabeleceram definitivamente.
Uma vez em Salvador, Bouts encontrou uma scuna chamada Cisne e foi amor à primeira vista. Queria porque queria comprar o barco, e por mais que insistisse, o dono repetia que não estava a venda. Algum tempo depois, Bouts soube por um conhecido que o barco estava sendo vendido e não perdeu tempo, logo já estava em posse de sua embarcação dos sonhos. A bordo do Cisne, a família Bouts percorreu toda a costa brasileira desde o Amapá até o extremo do Rio Grande do Sul, vivendo um total de 20 anos no mar (contando o período na costa argentina).
“Como se poderá apresentar ou resumir, em algumas linhas toda uma vida de trabalho e meditação?”
É o que questiona Bernard Robert Marie Bouts a Antônio Bento durante a entrevista que deu origem ao livro As Obras de Bernard Bouts, pela editora Colorama. Nesta exposição buscamos trazer um pouco de seu legado para as artes plásticas e contar um pouco da história deste artista das telas e das águas da maneira mais completa que pudermos - respondendo postumamente à sua indagação.
Bernard Bouts foi um pintor e escultor francês, mas que encontrou seu lar nas terras (ou mares) brasileiras. Nascido em 1909 em Versalhes, Bouts viveu pouco tempo ao lado da nobreza francesa. Aos nove anos, mudou-se com a família para a Inglaterra, onde viveu a maior parte de sua juventude e conheceu sua maior paixão além da arte: a navegação. O pintor era fascinado pelo mar, por embarcações e por toda a técnica da navegação, tanto que em muitas de suas pinturas estão retratados veleiros, barcos de pesca e paisagens marítimas.
Da mesma maneira, era avidamente contra a divisão de seus trabalhos em "fases", tanto que relatou a Bento que não achava importante colocar datas em seus quadros (ainda que alguns deles possuam). Afirmava que não fazia sentido tentar separar as obras em períodos, já que muitas vezes trabalhava em até três quadros simultaneamente utilizando técnicas diferentes em cada um. Essa “ausência de tempo” era percebida não só no fato de não sermos capazes de apontar quando a obra foi feita, em alguns casos, mas também nos elementos presentes na mesma. Nada denuncia em que tempo os retratos se passam “[...] as pessoas encontradas em suas telas, em banquetes ou simples refeições, são da antiguidade, são de ontem ou de hoje. [...] As suas roupas não as situam num tempo, nem num espaço dado. Vestidas pitorescamente, suas figuras participam de repastos ocorridos em qualquer local do oriente ou ocidente”, analisa Bento.
A maior parte de seus estudos artísticos foi com o pintor também francês Henri Charlier, quem o introduziu à técnica de utilizar folhas de ouro para recobrir esculturas de madeira. A partir daí, Bouts passou a usá-la também em suas pinturas, em muitas delas é possível perceber planos de fundo dourados formados a partir dos retângulos reluzentes.
No ano de 1971, vendeu o tão amado veleiro e pouco depois veio a descobrir que ele naufragara nas águas da Restinga da Marambaia. Após a longa temporada no mar, Bouts comprou uma casa no Cosme Velho - RJ, onde viveu o resto de seus dias, sem nunca deixar de pintar.
A Arte de Bernard Bouts era, no mínimo, atípica. Mesmo com tantas vanguardas abrindo o caminho para novos estilos de pintura e escultura, o artista nunca se ligou a nenhuma delas. Usava como referência as pinturas ancestrais de China e Grécia antiga, artes rupestres e tinha para si que esses sim eram os mais importantes e relevantes períodos da História da Arte. Como disse Antônio Bento em seu ensaio sobre a vida e obra do pintor: “A criação das formas de Bouts não decorre desta ou daquela tendência moderna ou antiga. Vem de seus sentimentos e não desta ou daquela imposição da moda”.
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Expediente